domingo, 11 de novembro de 2012


Vivências da Turma do 
Sítio do Picapau 
Amarelo

2012

No início do ano a Turma era formada quase que exclusivamente de crianças que frequentaram nossa escola no ano anterior, portanto, já me conheciam e ser meu “aluno” era como se tivesse passado de ano, pois tinham como referência ser eu a professora das crianças mais velhas.  
Poucas tiveram problemas para se adaptar, mas as que tiveram precisaram de muito apoio e paciência, até a Turma exercitou a paciência porque uma delas chorava muito e causando estranheza as outras crianças.
Passada a fase de adaptação comecei a conhecer as crianças, a maneira como falavam ou se calavam, suas preferências, dificuldades... Foi quando percebi que algumas crianças mesmo já tendo frequentado nossa escola pareciam não saber o que se faz numa escola, não conseguiam trabalhar de maneira adequada, não se fixavam nos trabalhos, pegava um jogo e logo escolhia outro, ia para o desenho e rabiscava qualquer coisa, corriam pela sala, no momento de arrumar a sala não ajudavam...
A sala era um verdadeiro tumulto! Um caos! Algo precisava ser feito...
Foi quando resolvi reorganizar o espaço da sala, coloquei placas identificando a atividade que seria desenvolvida em cada mesa e antes de entrarem na sala fizemos uma roda na área externa para conversarmos sobre o que podemos fazer na escola e o que fazer para ter um dia tranquilo.  Entre outras coisas disseram que na escola tem que trabalhar e não ficar passeando pela sala e depois têm que arrumar as coisas todos juntos. Depois de tanta conversa fomos para sala e apresentei a nova organização e juntos combinamos quantas crianças poderiam trabalhar juntas nas mesas, quantas cabiam na biblioteca e na casinha... Tudo combinado, hora de trabalhar...
A partir deste dia as coisas começaram a ficar um pouco mais tranquilas, ainda precisavam de orientação em como utilizar os materiais, mas todas as crianças estavam envolvidas e se alguma começava a “passear” pela sala com apenas um lembrete já se envolvia em algum trabalho.
Meu primeiro objetivo começa a ser atingido “ajudar a sala a se organizar de maneira cooperativa, desenvolvendo a aprendizagem da responsabilidade”.
Assim foi o nosso começo de trabalho em ateliês, nome já apropriado pelas crianças. O objetivo desta forma de organização da sala e proporcionar as crianças um maior número de atividades para escolher, que o desejo e os interesses das crianças sejam respeitados. Cabendo a mim encorajar e valorizar as mais diferentes tentativas, ajudar as crianças a concluírem seus trabalhos, fornecer ajuda técnica quando necessário, permitir que as crianças progridam no seu ritmo,  respeitar a personalidade de cada criança.
Na nossa Turma as crianças são livres para escolher, mas é uma liberdade situada, não podem escolher não fazer nada. Para isso, há um quadro com o nome dos ateliês e cada criança coloca seu nome no ateliê que deseja trabalhar, o material que necessita está ao seu alcance para usar e depois arrumar ela mesma, sem a minha ajuda.

         

Temos na sala ateliê de recorte e colagem, jogos e quebra-cabeça, biblioteca, computador, modelagem, pintura, carros e miniaturas, casinha, desenho e escrita. Os materiais dos ateliês são disponibilizados e propostos para permitir às crianças fazerem o máximo de tentativas e realizarem um trabalho criativo. Um dos ateliês bastante procurado é o de recorte e colagem, algumas crianças trazem material de casa para realizar seu projeto, trazem papel com o desenho do que quer fazer ou sua ideia na cabeça.

              


Se disser que o ateliê estará fechado porque no dia não poderei dar apoio quando necessário, pois estarei em outro ateliê, dizem em protesto “Mas eu preciso tanto ir!”, “Tenho que fazer um presente para minha mãe, minha tia...”. Crianças autônomas são assim, expressam-se sem receio, então, entramos num acordo.  

Mais um objetivo sendo atingido “tornar as crianças cada vez mais autônomas e responsáveis por suas escolhas, dentro de um ambiente cooperativo e de livre expressão”.
Durante o trabalho em ateliês observei que estava muito difícil para as crianças perceberem o espaço determinado da casinha apenas com uma marca no chão precisavam de um limite mais visível. Propus a elas que colocássemos um  pano na casinha  que seria "a parede" da casinha e para que ele ficasse mais bonito poderíamos fazer desenhos para enfeitá-lo.
Que desenho fazer?  Várias  ideias foram dadas até que o Neder e a Duda disseram: “Que tal juntar as ideias?” E assim foi feito....
Em um dos panos teria uma casa que  seria  o Sítio do Picapau Amarelo, a Emília, Dona Benta, Saci, Cuca,    Anjinho da asa quebrada   e borboletas; no outro pano teria palhaço, circo,   Visconde, árvore e borboletas. Algumas   crianças se propuseram a desenhar, outras ficaram responsáveis por pintar com guache. E o resultado,  como  elas  definiram...
“Ficou bonito  e chique.
Todo mundo ajudou um pouco, fazendo os desenhos e depois pintando...”
Este foi um dos primeiros trabalhos realizados em grupo.
A roda da conversa é mais um dos momentos da sala que as crianças exprimem livremente seus desejos, sentimentos, falam dos acontecimentos da suas vidas em casa ou na escola. Nesse momento escolhemos as novidades que serão coladas na sala, no nosso livro “Histórias que contamos na roda” e no caderno de lição. Este é o nosso jeito de começar a aprender a ler e escrever. Em roda, também falam sobre diferentes temas que podem virar projeto de trabalho como os Dinossauros e Cobras, ou apenas algo para pesquisarmos rapidamente. Temos até um livro com reportagens sobre os assuntos abordados em roda como abelhas, metamorfose das borboletas, sapos... E tudo que é significativo para a Turma fica registrado no Livro da Vida, ele  é a memória escrita da nossa sala.


É na roda também que elaboramos textos coletivos que viram livros com ilustração das crianças, estamos terminando o Livro de Parlendas. Elas adoram parlendas, muitas vezes, durante o trabalho em ateliês ouço crianças cantarolando “Hoje é domingo...”. Este livro vai atravessar o oceano Atlântico, uma cópia dele será oferecida às crianças de Portugal, juntamente com desenhos e CD do clipe “Vou tomar banho”. Estarei em Portugal para participar do 1º Seminário Internacional “Educação em Portugal: Opções e Práticas”.

Na Turma nenhuma conversa, trabalho passa despercebido, tem sempre algo a mais para inventar...
Uma conversa sobre alimentação saudável e alguém já fala “Podemos fazer um piquenique só de alimentos saudáveis.”, e outra criança completa “Mas não pode ser aqui dentro da sala, piquenique é num lugar aberto.” e mais outra “Pode ser lá no parque.”
Levo para sala livros para que as crianças tenham repertório de possibilidades ao criar usando sucatas no ateliê de recorte e colagem, assim como nos ateliês de desenho e modelagem. Pois ninguém aprende do nada, sem modelo, mas não o modelo igual para todos, mas sim a partir de um modelo criar o seu próprio. E lá está o Neder olhando e diz “Quero fazer um carro igual a este, mas não de caixa, quero de madeira!” (Ai, ai, ai, eu não disse que o livro não tinha objetivo de levar as crianças a fazerem igual à proposta do livro, que modelo não é para fazer igual?!). E vamos nós para mais um projeto de trabalho: piquenique mais construção de um carro de madeira que o Neder concordou em fazermos para a turma, mas a Duda já propôs “Pode ser dois: um de menino e outro de menina”. Assim é a Turma do Sítio do Picapau Amarelo.
Olho para as crianças e vejo um pouquinho de cada mascote:


Criança Visconde: sabe tudo sobre tudo, 
sempre disposto a saber mais.

              Criança Emília: tagarela, quer falar antes de todos e sempre tem razão.

              Criança Saci: sempre aprontando uma traquinagem.

            Criança Cuca: fica com raiva e sai gritando e batendo com suas poções mágicas.

Mas como ninguém é uma única coisa o tempo todo, cada criança tem um pouquinho de cada mascote e, é claro a Professora também!  
    
Meu agradecimento a todas as crianças
que sempre acrescentam algo ao meu fazer pedagógico.
Aos pais pelo carinho, respeito e confiança.
Prof. Roseane D. Gomes



(Relatório de grupo entregue aos pais na RFE de out)  

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